Percurso Cognitivo
O Percurso Cognitivo, baseado na engenharia cognitiva, avalia, através da exploração da interface, a facilidade de aprendizado por exploração de um sistema. As tarefas dos usuários são decompostas em ações, sequência de passos necessários para realizar a tarefa. O avaliador analisa cada ação tentando se colocar no lugar do usuário, questionando se é possível realizar as ações e se elas conduzem ao cumprimento da tarefa com sucesso, anotando as características de usabilidade problemáticas. Caso ocorra problema na realização das ações, o avaliador levanta hipóteses sobre o problema e propõem soluções (Baranauskas & Rocha, 2003; Silva & Barbosa, 2010; Nielsen & Mack, 1994 apud Preece et alii, 2005).
Preece et alii (2005) destaca como pontos fortes dessa técnica a abordagem focada nos problemas dos usuários e o fato que para aplicá-la não é necessário um sistema pronto. Cybis et alii (2010) afirma que essa técnica, devido a sua abordagem, é indicada para apoiar a identificação de problemas relacionados à lógica das tarefas, visto que foca a exploração do sistema. Baranauskas & Rocha (2003) defendem a importância da facilidade de um sistema por exploração citando as pesquisas de Carrol & Rosson (1987) e Fisher (1991) que apontaram a preferência dos usuários em usar um sistema por exploração, trabalhando em suas tarefas usuais e assim adquirir conhecimento necessário para usar o sistema com o uso, ao invés de ter que fazer treinamentos ou ler manuais
Silva & Barbosa (2010) e Baranauskas & Rocha (2003) propõem uma sequência de quatro atividades para aplicar essa técnica. A tabela 5 detalha essas atividades.
Tabela 5: Aplicação do percurso cognitivo (Silva & Barbosa, 2010, p.323)
Atividade | Tarefa |
---|---|
Preparação | • identificar os perfis de usuários • definir quais tarefas farão parte da avaliação • descrever as ações necessárias para realizar cada tarefa • obter uma representação da interface, executável ou não |
Coleta de dados e interpretação | • percorrer a interface de acordo com a sequência de ações necessárias para realizar cada tarefa • para cada ação enumerada, analisar se o usuário executaria a ação corretamente, respondendo e justificando resposta às seguintes perguntas - O usuário vai tentar atingir o efeito correto? (Vai formular a intenção correta?) - O usuário vai notar que a ação correta está disponível? - O usuário vai associar a ação correta com o efeito que está tentando atingir? - Se a ação for executada corretamente, o usuário vai perceber que está progredindo na direção de concluir a tarefa? • relatar uma história aceitável sobre o sucesso ou falha em realizar cada ação que compõe a tarefa |
Consolidação dos resultados | • sintetizar resultados sobre: - o que o usuário precisa saber a priori para realizar as tarefas - o que o usuário deve aprender enquanto realiza as tarefas - sugestões de correções para os problemas encontrados |
Relato dos resultados | • gerar um relatório consolidado com os problemas encontrados e sugestões de correção |
Na primeira atividade, preparação, o avaliador prepara a lista de tarefas que serão avaliadas, a sequência das ações escritas de forma clara, a lista de perguntas do método, o perfil dos usuários e uma representação do sistema, podendo ser um protótipo em papel ou um sistema em funcionamento (Silva & Barbosa, 2010; Preece et alii, 2005). Baranauskas & Rocha (2003) chamam a atenção para que a seleção das tarefas seja feita com base em estudos de mercado, na análise de requisitos, na análise de conceitos ou com base na funcionalidade central do sistema, e que as tarefas tenham, além das ações, o contexto.
No quadro 1 é apresentado no quadro um exemplo contendo uma tarefa e suas respectivas ações, perfil dos usuários, perguntas do método e resposta.
Quadro 1: Exemplo do percurso cognitivo para compra de um livro no website da Amazon.com. Fonte: Preece et alii (2005, p.443)
Encontrar um livro na Amazon.com Tarefa: comprar uma cópia do livro “Design de Interação: Além da Interação humano-computador” na Amazon.com Passo 1: Selecionar a categoria correta de produtos na homepage Passo 2: Completando o formulário |
Na atividade coleta e interpretação dos dados, segunda atividade, o avaliador coloca-se dentro de um cenário típico, assumindo o papel de usuário típico, analisando cada passo necessário para executar a tarefa (Silva & Barbosa, 2010). A análise de cada passo é feita tendo como base cinco questões apresentadas por Cybis et alii (2010, p. 219):
- O usuário vai tentar atingir o efeito correto? Baseado na interface, verifica se a intenção formulada pelo usuário é igual à projetada pelo design.
- O usuário vai notar que a ação correta está disponível? Verifica se as opções, comandos e elementos de interação, estão disponíveis e visíveis ao usuário quando necessário.
- O usuário vai associar a ação correta com o efeito que está tentando atingir? Verifica se os elementos de interfaces, como representações gráficas, são representativos da tarefa, de modo a fazer sentido ao usuário.
- O usuário saberá operar o objeto? Verifica se o usuário possui o conhecimento necessário para operar a ação.
- Se a ação for executada corretamente, o usuário vai perceber que está progredindo na direção de concluir a tarefa? Verifica, a partir do feedback do sistema, se as ações executadas foram corretas.
Ao responder às questões, Baranauskas & Rocha (2003) recomendam que os avaliadores conheçam a teoria de Polson & Lewis (1990) sobre aprendizagem exploratória, a fim de que o avaliador enxergue sob o ponto de vista do usuário.
[No processo de exploração, os usuários] (1) iniciam com uma descrição grosseira da tarefa que têm que efetuar (2) exploram a interface e selecionam as ações que eles imaginam as mais adequadas para efetuar a tarefa ou parte dela (3) observam a reação da interface para verificar se suas ações tiveram o efeito desejado e (4) determinam qual ação a seguir (Polson & Lewis, 1990 apud Baranauskas & Rocha, 2003, p.189).
Conforme o avaliador analisa cada passo, tendo as questões e o processo de exploração em mente, ele relata e responde cada pergunta para cada passo, o que o auxilia a identificar os passos que apresentam problemas e que impedem o usuário de concluir a tarefa. Assim, na próxima atividade, consolidação dos resultados, os resultados são consolidados e analisados para determinar os conhecimentos que os usuários devem ter e desenvolver para usar o sistema e quais as sugestões para correção. Por fim, um relatório é redigido contendo, segundo recomendação de Silva & Barbosa (2010, p.326):
- os objetivos e escopo da avaliação;
- breve descrição do método de percurso cognitivo, incluindo as perguntas respondidas;
- número de avaliadores e seu perfil;
- descrição da tarefa analisada;
- descrição do conhecimento necessário que os usuários devem ter para utilizarem o sistema;
- conhecimento que os usuários deveriam aprender enquanto realizam a tarefa;
- listas de problemas encontrados;
- sugestões para solução dos problemas.