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IHC: Engenharia Cognitiva

IHC

A Engenharia Cognitiva foi proposta por Donald Norman, em 1986, na tentativa de utilizar conhecimentos da psicologia cognitiva, da ciência cognitiva e dos fatores humanos para entender os processos cognitivos humanos - processo pelo qual o ser humano constrói conhecimento - e a capacidade e limitações da mente, no intuito de usá-los para desenvolver sistemas interativos agradáveis, motivadores, prazerosos e fáceis de usar (Silva & Barbosa, 2010; de Souza et alii, 1999).

A Engenharia Cognitiva está centrada na relação entre usuário e sistema, na interação do usuário com um sistema concebido, não sendo seu foco o projetista de sistema ou o processo de design do sistema (Netto, 2010). Portanto, a Engenharia Cognitiva foca os processos psicológicos dos usuários e os fenômenos envolvidos durante a interação com o sistema (Souza et alii ,1999; Baranauskas & Rocha, 2003; Silva & Barbosa, 2010). Assim, com o propósito de entender como os usuários interagem com as interfaces do sistema, Norman & Draper (1986) propõem a Teoria da Ação (Baranauskas & Rocha, 2003).

Na Teoria da Ação, a interação entre usuário e sistema é realizada num ciclo de ação que envolve sete etapas e dois alvos a serem atingidos. Norman (1986) define esses dois alvos como “golfos” a serem atravessados. Um é o Golfo da Execução, que envolve todo o esforço mental do usuário para planejar sua ação diante dos comandos e funções percebidos no sistema. O outro é o Golfo de Avaliação, que envolve o momento em que o usuário coloca o planejamento da sua ação em prática, executando ações – entradas – no sistema, e o momento que o usuário, por meio das saídas do sistema, avalia se os seus objetivos estabelecidos no planejamento da ação foram alcançados.

Para atravessar os “golfos” definidos por Norman (1986), o usuário deve realizar uma sequência de etapas dentro de cada “golfo”. No Golfo da Execução, o ciclo se inicia com a tarefa do usuário, o objetivo pelo qual o usuário deseja interagir com o sistema. A partir da definição do objetivo, inicia-se a (1) etapa de intenção em que o usuário elabora uma estratégia para alcançar o objetivo, considerando o estado atual do sistema e o estado a ser alcançado. Após definida a intenção, avança-se para a próxima etapa, a (2) especificação da ação, considerando os comandos e funções oferecidos pelo sistema, o usuário elabora uma série de passos, ações interativas com os controles do sistema para alcançar o objetivo ou executar a tarefa. Até o momento, o usuário executou apenas atividades mentais, porém, na próxima etapa, na (3) execução, o usuário colocará todo o esforço mental em uma ação física, colocando em prática o planejamento e interagindo com o sistema. A partir desse momento, da execução do planejamento, é at
ravessado o Golfo de Execução e iniciado a travessia do Golfo de Avaliação.

O Golfo de Avaliação se inicia com a (4) percepção do usuário após o processamento de sua ação pelo sistema; o usuário espera uma mudança no estado do sistema causada pelas entradas de sua ação. A partir da percepção da mudança de estado, avança-se para a próxima etapa, a interpretação (5) do novo estado do sistema pelo usuário. Tendo interpretado o novo estado, inicia-se a próxima etapa, a (6) avaliação, nela o usuário avalia o objetivo pretendido e a resposta do sistema. A figura 4 ilustra as etapas com um exemplo.


Figura 4: Estágios de atividade do usuário na travessia dos golfos (adaptado de Silva & Barbosa, 2010, p.57 e exemplo de Souza et alii ,1999, p.14)

Como visto, a Engenharia Cognitiva foca o usuário e sua interação com o sistema, assim, o usuário lida com um sistema projetado de acordo com o modelo mental do designer, com a visão do projetista do que seria a melhor solução para as necessidades dos usuários. Porém, cada usuário cria seu próprio modelo mental ao interagir com o sistema e seus comandos e funções. Nesse sentido, o modelo mental do designer é diferente do modelo de cada usuário, assim, cabe ao projetista criar um modelo mais próximo às expectativas do usuário. Portanto, entender a Engenharia Cognitiva e o processo de interação usuário-sistema, assim como a Teoria da Ação, possibilitam ao designer criar um modelo mental adequado ao sistema. Porém, o processo de desenvolvimento e design não é estudado pela Engenharia Cognitiva e sim pela Engenharia Semiótica, que foca o processo de design e o projetista de sistema (Netto, 2010).

Referências: